terça-feira, 11 de agosto de 2015

"Beleza negra é um ato político", diz a pesquisadora Yaba Blay

A professora universitária, uma das principais vozes sobre colorismo e políticas globais, participou de conferência especial no Festival Latinidades





A pesquisadora Yaba Blay pode não ser muito conhecida no Brasil, mas a professora universitária é referência internacional quando se trata de beleza negra e é uma das principais vozes sobre colorismo e políticas globais. Ela é autora de importantes estudos voltados para a questão da cor de pele e sobre o cabelo, com foco na estética cultural, como o livro Drop: Shifting the lens on race (Gota: Ajustar as lentes sobre as raças) e o projeto #Prettyperiod, em que fotografa diferentes belezas negras. Filha de mãe ganesa, ela vive nos Estados Unidos, onde se formou em psicologia na Universidade de Salisbury State, fez mestrado e doutorado em estudos americanos e africanos pela Universidade de Temple e pós-graduação em estudos da mulher. Na última semana, Yaba Blay desembarcou pela primeira vez no Brasil para participar do Festival Latinidades — Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha —, no Cine Brasília (106/107 Sul). Na conferência especial, ela falou sobre colorismo, supremacia branca e beleza negra. Em entrevista ao Correio por Skype, Yaba Blay fala sobre cotas nas universidades, os jovens negros mortos pela polícia e a relação dos temas de pesquisas com a sua vida. “São problemas que eu mesma tive que lidar, como uma mulher africana morando nos Estados Unidos. Eu quis estudar algumas da causas, a história e os efeitos nas mulheres negras. Isso se tornou um estudo profissional”, afirmou. 

Como surgiu o convite para participar do Festival Latinidades?
Uma das minhas amigas conhece as organizadoras do festival e é familiarizada com o trabalho delas. Por conta do tema, ela sugeriu meu nome. Fiquei muito honrada. 

Você já havia visitado o Brasil? 
Não, esta é a minha primeira vez. Me sinto honrada de estar no Brasil, que é um país que sempre quis visitar por conta do clima, dos lugares, da história e, depois, devido ao racismo. O mundo não sabe que muitos dos brasileiros se veem como africanos e valorizam essa descendência. Mostram-nos mulheres que não são negras como brasileiras, então temos a ideia de que não existem brancos e nem negros. E, se não há raça, não há racismo. Mas se não existe racismo, por que eu não sabia que havia mulheres negras no Brasil? O Brasil tem mais negros do que muitos lugares na África, ele só perde para a Nigéria em população.

Você tem vários estudos e artigos sobre a cor da pele e sobre cabelo. Por que decidiu falar sobre esses assuntos? 
São problemas com que eu mesma tive que lidar, como uma mulher africana morando nos Estados Unidos. Isso é algo que muitas mulheres precisam lidar, porque é muito comum e porque dói demais, eu quis estudar algumas das causas, sobre a história e os efeitos nas mulheres negras. Isso se tornou um estudo profissional. A beleza negra é uma questão política. A beleza, em si, se traduz em poder. O dicionário a define como uma vantagem e isso reflete em nossa sociedade. O que eu vejo como belo não é o que o outro vê como belo. A beleza está nos olhos de quem vê. Mas quem é que está vendo? Os padrões são culturalmente definidos. Antigamente, se você era bronzeado queria dizer que você era pobre, porque tinha que estar exposto ao sol trabalhando.

Fonte Correio Braziliense
Adriana Izel

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